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I: Holocausto/IBM
> 'A IBM fez uma aliança com os nazistas'
>
> O Globo - http://www.oglobo.com.br
> Rio de janeiro, 16/02/2001
>
> Filho de poloneses sobreviventes do Holocausto, o americano Edwin Black
> pesquisou cerca de 20 mil documentos durante cinco anos para escrever "IBM
e
> o Holocausto". Lançado simultaneamente em 14 países (inclusive no Brasil,
> pela Editora Campus) há uma semana, o livro foi recebido com estrondo e
> levou famílias de vítimas de Hitler a abrir ações contra a maior empresa
de
> computadores do mundo. Black sustenta que a tecnologia IBM deu rapidez à
> perseguição aos judeus. Em entrevista ao GLOBO por telefone, de Nova York,
o
> autor afirma que se deveria pesquisar se a IBM facilitou viagens de
nazistas
> a países da América Latina, como o Brasil.
>
> Como era a relação entre a IBM e os nazistas?
> EDWIN BLACK: Minha pesquisa descobriu que a IBM e seus engenheiros fizeram
> uma aliança estratégica com a Alemanha nazista, que começou em 1933 e
> continuou na época da Segunda Guerra Mundial. Essa aliança de negócios deu
a
> Hitler máquinas com capacidade de organizar todos os aspectos da
destruição
> de judeus, de identificação e confisco a deportação e extermínio. De 1933
a
> 1940, a empresa em Nova York monitorou e gerenciou sua subsidiária alemã e
> outras na Europa quase que diariamente. Em 1941, o gerente-geral europeu
da
> IBM esteve em Berlim instruindo funcionários alemães a usar as máquinas.
>
> O governo americano sabia dessa colaboração?
> BLACK: Sabia e agiu como facilitador para o envio de máquinas. Permitiu e,
> mais que isso, participou sem se preocupar com as conseqüências. Mas é
> preciso não confundir a perseguição nos anos 30 com o genocídio nos anos
40.
> Estou falando da primeira fase.
>
> E quando a guerra começou?
> BLACK: A exportação de máquinas continuou. Acho que preferiam não fazer
> perguntas.
>
> Como a tecnologia da IBM contribuiu para a perseguição de judeus?
> BLACK: Quando Hitler armou seu plano de exterminar os judeus europeus,
> precisava de pesquisas como as feitas por computadores. Mas em 1933 não
> havia computadores. Havia o sistema Hollerith de cartões de perfuração. A
> tabulação cruzada fornecia qualquer informação, como uma base de dados.
Tudo
> o que você pode fazer com um computador você pode fazer mais lentamente
com
> uma máquina Hollerith.
>
> Essa experiência trouxe avanço tecnológico à IBM?
> BLACK: Acho que foi o contrário. Acho que a IBM desenvolvia seus produtos
de
> modo que os clientes tirassem vantagens deles.
>
> Há alguma referência ao Brasil em seu livro?
> BLACK: Há uma. Acredito que uma das mais importantes pesquisas a ser feita
> ainda é não apenas abrir os arquivos da IBM na Alemanha, mas na Suíça, na
> França, na Polônia, na Argentina e no Brasil. Watson (Thomas J. Watson,
> fundador da IBM) usou a IBM para mover funcionários alemães da Europa para
> os Estados Unidos e a América Latina. A IBM era uma empresa mundial e
> promovia o diálogo entre a América Latina e a Alemanha nazista.
>
> Quem de fato era Watson?
> BLACK: Thomas J. Watson foi o maior criminoso de colarinho branco dos
> Estados Unidos. Foi um dos homens mais ricos dos Estados Unidos.
>
> O quão menos terrível teria sido o Holocausto sem a IBM?
> BLACK: Ninguém sabe. O que sabemos é que o Holocausto teria ocorrido com
ou
> sem a IBM. Mas na França, onde a tecnologia Hollerith não funcionava, o
> índice de extermínio de judeus foi de 24%. Já na Holanda, onde funcionava,
> foi de 73%. O Holocausto que conhecemos, com números espetaculares, este é
o
> Holocausto da tecnologia IBM.
>
> Que dificuldades o senhor encontrou ao investigar essa história?
> BLACK: Desvios, prazos, dinheiro, tensão, compreensão. Levei tanto tempo
> para compreender esses documentos, reuni-los. A maioria nada significava
> sozinha. Só quando você os reúne é que entende esses fatos terríveis.
>
> Houve forças contrárias à pesquisa?
> BLACK: Houve falta de cooperação da IBM. Fui à Alemanha, tinha marcado um
> compromisso com eles e na hora cancelaram. Não me deixaram entrar no museu
> da IBM.
> _________________________________
> Alessandro Vigilante
> alessan@ongba.org.br