Stedile sulla Folha di oggi. Bisogna bloccare la destra e sconfiggere Alckmin





  
FOLHA  DE SAO PAULO, 10 de outubro de 2006.
TENDÊNCIAS/DEBATES
É preciso barrar a direita e derrotar Alckmin

JOÃO PEDRO STEDILE
Os movimentos sociais devemos nos mobilizar, arregaçar as mangas e ir para
as ruas para derrotar a candidatura Alckmin
DE 1990 a 2002, as classes dominantes implementaram um programa neoliberal
desastroso para a economia e para o povo. Entregaram ao capital financeiro e
internacional nossas melhores empresas, estatais e privadas. Dilapidaram os
serviços públicos. A dívida pública interna cresceu vergonhosamente, e o
governo passou a usar 30% de toda a receita federal para pagar juros. O
povo, as empresas e o governo passaram a pagar as mais altas taxas de juros
do mundo. Resultado: a economia não cresceu, e houve maior concentração da
riqueza. Ao povo restou a pobreza, mais desigualdade e o maior desemprego de
toda a história. 
Sentindo na carne esses problemas, nas eleições de 2002, o povo votou contra
o neoliberalismo e elegeu o presidente Lula.
Nos últimos quatro anos, houve um governo de coalizão, como costuma dizer o
ministro Tarso Genro, e as forças do capital continuaram influenciando para
manter a política neoliberal. Por outro lado, forças de esquerda conseguiram
avanços na política externa, na defesa das estatais e em algumas áreas
sociais, como a educação pública e o salário mínimo.
Os movimentos sociais temos sido críticos da política econômica. O MST tem
se manifestado e lutado contra a lentidão da reforma agrária, a prioridade
dada ao agronegócio (que, por sinal, votou contra o governo) e o
não-cumprimento do plano nacional de reforma agrária.
Compreendemos que o contexto político desse período foi adverso para as
forças populares, pela ausência de mobilização de massa e pelo marasmo da
maioria dos sindicatos e movimentos. Alguns se acomodaram ou tiveram suas
direções cooptadas ideologicamente. Outros foram massacrados pela ofensiva
neoliberal que acabou com diversos setores da classe trabalhadora. Há um
refluxo do movimento de massa, que influiu decisivamente na atual correlação
de forças. 
Vieram as eleições de 2006. Defendíamos a necessidade de aproveitar a
campanha para debater um novo projeto popular para o país. Infelizmente,
predominaram visões oportunistas e de marqueteiros e a repetição de métodos
espúrios, com uso abusivo do dinheiro, compra de cabos eleitorais etc. Tudo
bancado pela contribuição de empresas interessadas em favores
governamentais. O resultado foi a campanha sem entusiasmo, sem militância e
sem interesse do povo.
Quando tudo parecia já acordado, e os resultados, previstos, eis que, na
última semana, por graves erros da campanha Lula, a direita encontra motivos
para se unificar em torno de Alckmin (como com Collor, em 1989).
Foi para a ofensiva e, usando acintosamente seus meios de comunicação, levou
a eleição para o segundo turno. O mesmo ocorreu em diversos Estados, com a
chegada ao segundo turno de candidatos direitistas.
Mas, como tudo na vida, há contradições. A unidade da direita em torno de
Alckmin provocará o debate de idéias e projetos. A campanha deverá deixar
claros os interesses de classe que há por trás de cada candidatura.
A candidatura Alckmin, que representa os interesses do capital financeiro,
das transnacionais, do governo Bush, da burguesia brasileira e dos
fazendeiros do agronegócio, está ansiosa para retomar as rédeas do governo.
Defendem todos os dias nos jornais ser preciso seguir privatizando
-Petrobras, Correios, estradas e bancos estaduais. Querem as reformas
trabalhista, tributária e da Previdência para ampliar seus lucros. Propõem a
garantia do pagamento de juros dentro da Constituição pelo mirabolante plano
déficit zero. Recolocam a Alca como uma necessidade -e, assim, subordinariam
ainda mais nossa economia e o país aos interesses do império.
E, se os pobres ousarem lutar, chamarão os "capitães-do-mato" e oferecerão
polícia e cadeia. Por isso, os movimentos sociais e todos os seus militantes
devemos nos mobilizar, arregaçar as mangas e ir para as ruas para derrotar a
candidatura Alckmin e os seus interesses de classe. Não podemos vacilar.
Vamos transformar a campanha num debate de projetos e de idéias. Uma vitória
de Alckmin seria uma derrota gravíssima para o povo brasileiro.
E, no próximo mandato do governo Lula, vamos seguir mobilizados para
derrotar a política neoliberal e debater na sociedade um novo projeto para o
país. O Brasil precisa encontrar seu rumo. Precisa de um projeto que coloque
como prioridade do Estado e da política a solução dos principais problemas
do povo, como o desemprego, a educação, a reforma agrária, a moradia e a
distribuição de renda, para todos e todas. Não há mudanças sociais sem a
participação do povo, sem a mobilização popular.

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JOÃO PEDRO STEDILE, 52, economista, é membro da coordenação nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina Brasil.