Intervista a Stedile- 26 giugno



Title: Intervista a Stedile- 26 giugno


NACIONAL
O ESTADO DE S.PAULO Domingo, 26 de Junho de 2005

 
Il rischio maggiore è la barbarie, dice Stédile
Per il leader del MST il clima di instabilità può stimolare disordini: la via d’uscita è che Lula si allei con i settori popolari
 

Roldão Arruda

O principal líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, acredita que está em curso um processo de desestabilização do governo federal. Para ele, a melhor saída para Luiz Inácio Lula da Silva seria renovar sua aliança com os setores populares, mudando o rumo da política econômica. Se o clima de instabilidade se agravar, o risco maior, segundo Stédile, não é a intervenção de movimentos organizados, como o MST, mas a irrupção de ações desorganizadas. "O risco maior é a barbárie", diz ele.

O MST e outras organizações populares têm dito que está em curso um processo para desestabilizar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Onde o senhor vê indícios desse processo?

Basta ler os jornais. Basta ler as declarações de próceres do PFL, o que diz o ACM, o que escrevem os colunistas ligados à direita. É evidente que os setores mais reacionários da política brasileira e, mais ainda, aqueles setores ligados aos serviços de inteligência, incontroláveis, estão apresentando a hipótese de impedimento do presidente.

Preparam um golpe?

Como disse o sociólogo Emir Sader, num artigo recente, os golpes modernos não são no estilo clássico, da força bruta. São pequenos golpes, todos os dias, com o objetivo de minar a credibilidade e criar um clima de insustentabilidade. A articulação dos setores direitistas para dar maior exposição às denúncias de corrupção é evidente.

O senhor tem dito que é preciso aglutinar forças em defesa do governo. Não acha difícil fazer isso, considerando que o governo ainda não correspondeu à expectativa popular? A política econômica na linha neoliberal é a mesma do governo anterior, o nível de desemprego continua alto, o salário mínimo não cresceu como se esperava.

O esforço do MST e de outros movimentos populares não é para mobilizar forças em torno do governo. Nós temos autonomia e assim devemos continuar. Nosso esforço é para pressionar o governo. Há uma crise e o que se busca são formas de sair dela. Setores governistas e do capital querem que o governo saia pela direita, comprometendo-se ainda mais com os interesses do capital. E nós dizemos que a melhor forma de o governo sair da crise é abandonando o projeto neoliberal e recompondo sua aliança com o povo.

Como ele faria isso?

Para recompor a aliança com o povo, o governo precisa dar sinais claros de mudança na política econômica. Precisa usar os recursos públicos, ora contingenciados pela política burra do superávit primário, para atender aos direitos sociais. Ou seja: aplicar os recursos em educação, salário mínimo, reforma agrária, investimentos que gerem emprego.

Não acha que o governo ficaria mais instável se fizesse um movimento brusco na economia, como o senhor recomenda?

Se não mudar, ele pode ter estabilidade. mas ficará ainda mais refém do capital internancional e dos interesses dos bancos. Por outro lado, perderá a credibilidade com o povo e comprometerá a reeleição.

O clima de instabilidade ao qual o senhor se referiu e a fragilização do governo podem criar o risco de convulsão social no País?

Não. Nós vivemos um período histórico de descenso do movimento de massas. Isso foi causado por 15 anos de neoliberalismo, que resultou no enfraquecimento das organizações, quebrou o direito ao trabalho e levou desânimo às massas. O papel dos dirigentes e dos movimentos populares é estimular as lutas sociais, mostrar para o povo que ele não pode ficar esperando soluções milagrosas e, muito menos, pela ação de um presidente paizão. O perigo maior que eu vejo nessa conjuntura é o da barbárie social. Falo daquela situação em que os problemas sociais se agravam e as pessoas passam a buscar apenas saídas pessoais - que levam a todo tipo de desvios. Elas não levam a nenhuma organização social, nem à civilidade. Isso sim é que é perigoso. O alto nível de desemprego, a pobreza e a desesperança, associados à falta de credibilidade nas instituições representa um problema muito grave.

Em vez de golpe, a oposição não estaria tentando imobilizar Lula, garantindo seu retorno ao poder, nas próximas eleições?

Há varias cenários em curso e ninguém sabe ainda como vai acabar, pois depende da correlação de forças. Há setores mais à direita que apostam no impedimento. O PSDB, a Febraban e seus aliados querem desgastar o governo, para levá-lo à derrota antecipada e ganhar as eleições de 2006. Há setores do governo que querem sair da crise por meio de uma aliança com o PMDB, sem grandes alterações. E há setores que chegam a defender a aliança com o PSDB. Foi o caso dos irmãos Viana, do Acre. Nós, dos movimentos sociais, deixamos claro na Carta ao Povo Brasileiro que a única saída popular seria o governo se aliar com o povo, mudar a política econômica, fazer uma reforma ministerial clara, conduzir a reforma política e construir um novo projeto para o País.