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"O MST está numa situação muito boa"
- Subject: "O MST está numa situação muito boa"
- From: Serena Romagnoli <md1042@mclink.it>
- Date: Wed, 21 Jan 2004 22:14:46 +0100
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Biblioteca - Textos Reforma Agrária
"O MST está numa situação muito boa"
21/1/2004
Da Agência Folha
Ao admitir que o MST se tornou "mais político e social" e "menos corporativo
e camponês" ao longo dos últimos 20 anos, o economista gaúcho e principal
líder dos sem-terra, João Pedro Stedile, 50, insinua a participação do
movimento no governo federal.
"Nos orgulhamos de ter entre nossos militantes muitos companheiros que hoje
são ministros, prefeitos, deputados", disse, em entrevista por e-mail à
Agência Folha. Ele não citou os nomes dos supostos simpatizantes ou
dirigentes do MST que integram cargos no Executivo e no Legislativo.
Leia a seguir trechos da entrevista que foi concedida à Agência Folha.
Agência Folha - Quando realizaram o primeiro encontro nacional, em 1984,
tinham a idéia de que o movimento chegaria aos 20 anos?
João Pedro Stedile - Quando realizamos o primeiro encontro nacional, nem um
nome havia. Era apenas um encontro, para tentar dar unidade nacional a um
processo de lutas localizadas e estaduais dos movimentos camponeses. A
importância do encontro é que ele conseguiu mostrar que tínhamos que criar
um movimento nacional, com objetivos unificados, com plataforma única. E que
fosse autônomo das igrejas, dos partidos, do governo e do Estado.
Agência Folha - Entre os objetivos gerais do MST, sempre esteve o combate ao
capitalismo como uma forma de enaltecer os valores socialistas. Daí que
talvez venha a idéia de alguns de que o MST não quer terra, e sim a
revolução. Como vocês lidam com isso?
Stedile - Nossa base doutrinária não é sectária nem dogmática. Nós nunca nos
expressamos contra o capitalismo porque alguém nos deu uma aula de que o
capitalismo é perverso. O movimento sempre se expressou contra a exploração
do trabalho dos camponeses. E debatemos a idéia de que a reforma agrária
pode ser uma forma de eliminar a exploração.
Agência Folha - Especialistas na questão agrária dizem que o MST está hoje
numa situação muito delicada, talvez a mais problemática de sua história.
Isso porque, em pleno governo Lula, está sendo obrigado a recuar, não tendo
força para ser oposição...
Stedile - Ao contrário. O MST está numa situação muito boa, acho que a
melhor em todos os seus 20 anos. Por quê? Porque existe uma consciência
maior na sociedade da necessidade de se eliminar o latifúndio como combate à
pobreza e ao desemprego. Porque já temos muita experiência e capacidade
organizativa. [...] Nunca na história do Brasil tivemos tantas famílias de
pobres do campo mobilizadas como agora. Já somos quase 200 mil famílias.
Agência Folha - Quais foram as conquistas dos trabalhadores rurais sem terra
nos últimos 20 anos que o sr. destaca por causa do MST?
Stedile - Construir um movimento social organizado, autônomo, com a
capacidade que tem o MST, em nível nacional, por si só é uma conquista
enorme para a classe trabalhadora brasileira. Mas evoluímos também nesses 20
anos ao compreendermos que a solução para a pobreza e para a desigualdade
social que existem no meio rural não é apenas a distribuição de terras.
Precisamos democratizar o capital, organizando as agroindústrias de forma
cooperativada nas mãos dos agricultores. Precisamos democratizar a educação
como uma forma de levar a cidadania para a população do campo. O MST se
transformou mais social, mais político e menos corporativo, menos camponês
não porque planejamos. Porque a sociedade moderna é assim. Nos orgulhamos de
ter entre nossos militantes muitos companheiros que hoje são ministros,
prefeitos, deputados. Mas também nos orgulhamos de ter mais
de 80 militantes em mestrado e doutorado, e centenas estudando nas
universidades, alguns no exterior. É isso que preocupa as elites, elas sim,
cada vez mais ignorantes, estúpidas e colonizadas.
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