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Fw: Attivista MST arrestato all'uscita dal Quartier Generale di Arafat ed espulso





 22/04/2002 - 16h13
 Ativista do MST será expulso de Israel e volta ao Brasil amanhã

 SÍLVIA FREIRE
 da Folha Online

 O agricultor gaúcho e líder do MST Mário Lill deve embarcar para o Brasil
 amanhã. Ele foi preso hoje por voltas das 11h de Israel (6h de Brasília) ao
 deixar o quartel-general da Autoridade Palestina, em Ramallah, onde estava
 confinado junto com ativistas de vários países.

 Segundo um alto funcionário da missão diplomática do Brasil em Tel Aviv,
 que vinha conversando com Lill frequentemente, o agricultor deve ser
 submetido a um processo judicial no país por violar regras de imigração e
 ser expulso de Israel.

 Os diplomatas brasileiros esperam poder conversar com Lill nas próximas 12
 horas. "Esperamos que ele chegue são e salvo ao Brasil", disse o
 funcionário que pediu para não ser identificado.

 Segundo a embaixada brasileira em Tel Aviv, o governo israelense mostrou
 uma boa disposição para superar o fato e garantiu que o agricultor seria
 tratado com "cordialidade".

 Lill deixou o quartel-general junto com outros nove ativistas -oito
 franceses e um britânico. Ele estava confinado no local junto com o
 presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, desde o dia 29 de março,
 servido de escudo humano ao líder palestino.

 Segundo integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) o
 grupo decidiu deixar o quartel-general de Arafat com a chegada ontem de 12
 ativistas provenientes dos Estados Unidos, Bélgica e Austrália.

 22/04/2002 - 13h08
 Ativista do MST é preso pelo Exército israelense

 SÍLVIA FREIRE
 da Folha Online

 O agricultor gaúcho Mário Lill, que estava confinado no quartel-general da
 Autoridade Palestina, em Ramallah, foi preso hoje, por volta da 6h (horário
 do Brasil), pelo Exército israelense. Neste momento, Lill está prestando
 depoimento em Jerusalém.

 Segundo informações do cônsul brasileiro, Roberto Coutinho, Lill deve
 deixar o país até o final da tarde de hoje. Coutinho está no aeroporto de
 Jerusalém aguardando a chegada do agricultor brasileiro.

 De acordo com integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
 Terra) do Rio Grande do Sul, Lill e outros seis agricultores europeus que
 estavam no quartel-general de Iasser Arafat articulavam a saída deles para
 hoje com a chegada ao local ontem de 12 novos ativistas vindos dos Estados
 Unidos, Bélgica e Austrália.

 Os militantes irão manter o escudo humano em defesa do líder da Autoridade
 Palestina contra possíveis ataques do Exército israelense.

 Segundo o MST gaúcho, diplomatas do Brasil e da França aguardavam a saída
 dos ativistas, mas o Exército impediu que entrassem em contato com eles.

 O último contato de Lill com o Brasil foi feito ontem à tarde com
 integrantes do MST em Porto Alegre. Segundo Miguel Stédile, assessor de
 comunicação do movimento, ele estava bem apesar do cansaço e desgaste
 psicológico.

 Leia mais:

 22/04/2002 - 08h23
 Sem-terra deixa hoje quartel de Arafat em Ramallah

 PAULO DANIEL FARAH
 da Folha de S.Paulo

 O agricultor gaúcho Mário Lill, 36, representante do MST (Movimento dos
 Trabalhadores Rurais Sem Terra), que está no complexo presidencial onde o
 líder palestino Iasser Arafat se encontra confinado, em Ramallah, acredita
 que vai conseguir deixar hoje o local com mais cinco estrangeiros.

 Ontem, mais 12 pacifistas entraram no complexo, incluindo dois americanos,
 dois britânicos, um dinamarquês e um norueguês. A maioria pertence ao Grupo
 de Solidariedade ao Povo Palestino. Houve muita confusão, segundo Lill, que
 conta que tomou dois banhos desde o final de março, quando entrou no local,
 e que, por isso mesmo, é a primeira coisa que pretende fazer ao sair.

 Folha - Entraram mais 12 estrangeiros no complexo hoje [ontem". O que eles
 fazem e de onde vêm?
 Mário Lill - São pacifistas. Dois americanos, dois britânicos, um
 dinamarquês, um norueguês e outros estrangeiros. A maior parte é do Grupo
 de Solidariedade ao Povo Palestino.

 Folha - Houve confusão?
 Lill - Sim, muita confusão. Eram umas 40 pessoas. Estavam divididas em dois
 grupos: um entrou pelo portão dos fundos, e outro, pelo da frente. Chegaram
 ao mesmo tempo e surpreenderam o Exército israelense. Até o Exército se dar
 conta, um grupo conseguiu entrar. O Exército disparou, houve muitos tiros,
 bombas de efeito moral e disparos com as metralhadoras no chão, mas não
 chegou a atingir ninguém. Os mais corajosos conseguiram passar.

 Folha - Você tem alguma previsão de quando vai sair?
 Lill - Pretendemos sair amanhã [hoje" da mesma forma que nós entramos.
 Vamos levantar a mão, tranquilos, e vamos embora. Eu conversei com o
 embaixador brasileiro e ele disse que não pode fazer nada, que fará o
 máximo para chegar perto, mas ele não tem força. É uma ladainha que cansa.

 Ele acredita que, no máximo, vai poder me ver no aeroporto. Ter embaixador
 e não ter não faz diferença.

 Folha - Acha que vai ser detido?
 Lill - Sim, acho que vão nos pegar e interrogar. Eu não tenho o que falar
 para eles, não entendo nem a língua deles. Se puserem um tradutor, eu não
 tenho o que falar. A única coisa é que estou aqui em missão de paz. A única
 saída para os dois lados é a paz. Mas nós vamos ver se nós conseguimos
 driblá-los. Estou aqui a convite do povo palestino, não fizemos crime
algum.

 Folha - Quantas pessoas devem sair? E qual a nacionalidade delas?
 Lill - Além de mim, há um basco e quatro franceses.

 Folha - Por que o grupo vai sair?
 Lill - Para fortalecer o trabalho pela causa palestina lá fora.

 Folha - Arafat conversou com vocês hoje [ontem"?
 Lill - Conversou com o grupo que chegou. Agradeceu a presença e explicou a
 situação. Falou muito da incomunicabilidade com o seu povo. Faz
 praticamente seis meses que ele está preso com o seu povo, sem viajar
 [Arafat está em Ramallah desde o início de dezembro]. E ele era alguém que
 viajava muito.

 Folha - O complexo presidencial pode ser atacado?
 Lill - Após a vinda de Powell [Colin Powell, secretário de Estado dos EUA],
 os EUA exigiram que Israel não nos ataque. Mas Arafat disse que não tem
 garantia de que Sharon [Ariel Sharon, premiê de Israel] não vá fazer isso.

 Folha - Houve alguma mudança na rotina quando Powell conversou com Arafat
 em Ramallah?
 Lill - Os israelenses fizeram uma faxina na frente do quartel-general
 porque eles destruíram tudo, os carros dos civis e outras coisas. E eles
 jogaram terra por cima. O complexo tem vários prédios, e nós estamos em um
 só. No resto estão os israelenses, que forçaram, com armas, um pessoal do
 saneamento a ligar a água e a desentupir os esgotos apenas dos prédios em
 que eles estão. Pela força das armas, eles foram forçados a fazer isso.

 Folha - Qual a situação atual? Há água e luz?
 Lill - Volta e meia eles cortam a luz, mas de qualquer forma a gente tem de
 ficar no escuro por uma questão de segurança. Os soldados estão sempre
 próximos. Tem um buraquinho onde a gente dá uma espiada, mas é uma situação
 perigosa. E falta água.

 Folha - Você está sem banho?
 Lill - Depois de uma longa fila, tomei dois banhos. E falta roupa.

 Folha - Você está com a mesma roupa de quando chegou?
 Lill - Troquei a camisa e a cueca. Os palestinos conseguiram uma cueca.

 Folha - Quantos banheiros vocês têm à disposição?
 Lill - Vários, mas só dois deles têm água neste momento.

 Folha - São quantas pessoas?
 Lill - Centenas.

 Folha - O que você vê daí?
 Lill - Tanques, muitos. Os soldados estão dentro dos prédios, às vezes a
 gente os vê. Tem horas em que não vemos ninguém, só tanques. Os soldados
 ficam apontando para as janelas como se fossem disparar. Nos primeiros
 dias, tínhamos boa comunicação. Agora bloqueiam as ligações.

 Folha - Onde você dorme?
 Lill - Nós usamos um colchão de solteiro, onde dormem três. Ou usamos
tapetes.

 Folha - Consegue andar dentro do prédio?
 Lill - A gente circula, mas não muito porque tem o pessoal de Israel, e a
 gente evita.

 Folha - E a comida?
 Lill - A alimentação básica é um pão, com alguma pasta ou mistura. Às vezes
 tem pepino e tomate. Hoje [ontem" tinha arroz e feijão.

 Folha - Tem acesso à cozinha?
 Lill - Não há cozinha. O Exército de Israel a destruiu. O cozinheiro morreu
 e ficou mais de uma semana lá, até Powell chegar. Tem um fogãozinho no
 prédio com quatro bocas para fazer comida para centenas. A mistura é pouca.

 Folha - O que faz no tempo livre?
 Lill - Escrevo, caminho, mas não dá para fazer muito exercício físico
 porque senão a gente sua e ninguém aguenta ficar perto. Não tenho muito
 contato com os palestinos devido à língua. Converso com o pessoal que fala
 espanhol.

 Folha - O que você vai guardar da experiência?
 Lill - Muitas coisas, mas tem de ter paciência. Nós, do MST, temos muita
 experiência de convívio coletivo, mas é um estilo pobre. O maior problema é
 a comunicação. Os árabes têm um convívio muito fraterno. Os soldados levam
 um fuzil em uma mão e dão a outra a um amigo, como se eles fossem
 namorados. Ou carregam um terço. O que me impressiona é o jeito simples. Às
 vezes, à noite, a gente dorme sem manta, passa um soldado e nos cobre, como
 minha mãe fazia.

 Folha - Qual sua impressão de Arafat?
 Lill - Ele parece nunca perder o otimismo. Para mim, é uma surpresa. Tudo
 parecia andar ao contrário, mas ele permanece otimista. Mas, logo depois da
 reunião com o Powell, me pareceu nervoso. À noite já estava melhor.

 Folha - Como vocês acompanham as notícias?
 Lill - Temos a CNN, a televisão francesa, uma suíça e a Al Jazeera, que é
 difícil de entender, mas é mais pelas imagens. Sempre tem alguém para
 traduzir. Acompanhamos o que se passa em Jenin e Belém diariamente. Todo
 dia tem gente que perde um irmão, um amigo, um parente. Isso já é diário.
 Temos contato direto com Jenin, inclusive com pessoas que estavam aqui nos
 primeiros dias. Foi um massacre [o governo israelense nega". Estou seguro
 disso. O pessoal relatou situações em que o Exército israelense, não
 satisfeito em matar, colocou os corpos para os tanques passarem por cima,
 esmagando. Isso é um extremismo. Há um piloto de helicóptero que se negou a
 bombardear um apartamento que teria cinco pessoas dentro. Ele se negou,
 recebeu ordem duas vezes, e esse piloto está desaparecido.

 Folha - O que resolveria esse impasse atual, na sua opinião?
 Lill - Tem de vir uma força internacional de proteção. A questão
 fundamental é o território. O povo palestino se defende com as armas que
 têm. Por isso que enfrentam um tanque com um fuzil. Eles utilizam as mais
 variadas formas que conhecemos, homens-bomba, os atentados.

 Folha - O que você acha dos atentados suicidas?
 Lill - Eles nos dizem que não têm armas para enfrentar o Exército
 israelense. "Estamos nos defendendo da invasão, essa é a única arma.
 Colocar pessoas enfrentando tanques é tão suicida quanto o homem-bomba. Não
 nos agrada muito fazer, mas...", dizem. Essa é uma análise fria. Não é a
 minha opinião. Acredito, e por isso estou aqui, que tem de ser pela paz,
 pela negociação. Estamos aqui para evitar que haja um ataque maior. A minha
 presença se deve a isto. Para evitar a morte.

 Folha - Há extremistas religiosos aí dentro?
 Lill - Não. Tem o Fatah, que é o grupo de Arafat. Eles também fazem luta
 armada, mas não são esses extremistas muçulmanos que pregam na Palestina um
 Estado religioso, islâmico. Arafat defende um Estado palestino, mas laico.
 O Prêmio Nobel da Paz que ele recebeu é mais do que justo.

 Folha - O que você pretende fazer quando sair?
 Lill - A primeira coisa é tomar um bom banho e trocar de roupa. Quero ver
 minha família, meu filho, que está chamando pelo pai, minha esposa, meu
 povo, meus companheiros sem-terra e descansar tranquilo. Preciso de uns
 dias para respirar ar puro, poder colocar as idéias em ordem para fazer uma
 melhor análise de todo o processo aqui.