[Date Prev][Date Next][Thread Prev][Thread Next][Date Index][Thread Index]

I: sem comentário




Giro questa mail che mi è arrivata. Non è stata tradotta, ma credo sia
interessante per chi conosce il portoghese.
Saluti.
Marina



> O Popular - http://www.opopular.com.br/
> Goiânia, 15/05/2000
>
> - Tabela de preços no submundo das ruas varia conforme fantasia sexual do
> cliente e a fome dos meninos.
>
> - Menores revelam que entre seus clientes estão autoridades e pessoas de
> classe alta. Antes do sexo, são obrigados a tomar banho para se limpar.
>
> Carla Borges
>
> Quando estava se prostituindo em Goiânia, antes de voltar para a casa dos
> pais, no interior do Maranhão, A.A., 16, recebia de 150 a 200 reais por
> programa. Todos os seus clientes - homens, mulheres e casais - eram da
alta
> sociedade. A. até dava aulas de strip-tease em casa, "só para mulheres
> casadas". Outra adolescente, W., 14, chegou ao SOS Criança na tarde de
> quinta-feira, depois de aceitar fazer um programa por 20 reais com um
homem
> de bicicleta, que a convidou para ir a um matagal. Ela foi agredida e
acabou
> socorrida por duas pessoas que passavam próximo ao local. A variação de
> preços cobrados pelos programas é normal. Crianças de rua, meninas e
> meninos, aceitam satisfazer fantasias sexuais de seus clientes por até 50
> centavos quando têm muita fome.
>
> Mais do que revelar a existência de uma tabela diferenciada de preços na
> prostituição infanto-juvenil na capital, os vários depoimentos dessa
> reportagem - todos registrados nos arquivos do SOS Criança e muitos
> confirmados pessoalmente a O POPULAR - mostram que crianças ainda com o
> corpo em formação continuam sendo flagrantemente exploradas em locais que
> vão desde lotes baldios a luxuosos hotéis e motéis, apesar de medidas de
> proteção tomadas pela Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário
> (Fumdec); pela polícia, que criou a Equipe de Proteção ao Adolescente e à
> Criança (Epac); e pelo Juizado da Infância e da Juventude, sem contar as
> investigações feitas pelo Ministério Público, que chegaram a levar alguns
> acusados para a cadeia. Nenhum foi condenado.
>
> Clientes
>
> Os relatos das menores também revelam o perfil dos exploradores. A
> adolescente C.P., 16 anos, por exemplo, veio do Maranhão para Goiânia em
> outubro do ano passado para morar com as irmãs, trazida por um amigo da
> família, funcionário do Senado Federal. C.P. conta que fez vários
programas
> com o servidor federal e quer receber os 800 reais que ele lhe deve. "Eu
me
> senti um objeto. Quero que ele pague, senão posso denunciá-lo e ele será
> preso", diz a garota. Com o dinheiro da prostituição, ela se mantém em
> Goiânia. Chegou a alugar um quarto no Setor Nova Suíça. Os programas
custam
> de 20 a 50 reais "conforme os desejos sexuais do homem", explica. O
programa
> mais caro pode incluir sexo oral e anal, além da manipulação de objetos
> eróticos, variando de acordo com o grau de perversão do cliente.
>
> Ampla experiência aos 13 anos
>
> Já a história de C.L. é o retrato acabado e chocante do que acontece no
> esquema da prostituição de crianças nas ruas de Goiânia. Ela tem apenas 13
> anos, vem de uma família totalmente desestruturada e já domina todos os
> códigos do submundo em que vive. A menina mora em um bairro pobre da
Região
> Noroeste de Goiânia com a mãe, uma irmã de 7 anos, o irmão E., de 17, e o
> padrasto. O primeiro atendimento de C.L. no SOS foi em 1995. Em 1997, ela
> foi novamente levada, por comissários do Juizado da Infância, quando
relatou
> que o padrasto constantemente tentava agarrá-la à força. A conselheira
> tutelar que visitou sua casa constatou o desequilíbrio e alertou que C.L.
e
> a irmã estavam mendigando e se iniciando na prostituição.
>
> No último atendimento, em 20 de abril último, C.L. foi levada ao SOS pelo
> Epac. Ela estava em Campinas, nas proximidades do extinto Dergo - que
ainda
> é o principal ponto de prostituição infantil em Goiânia. A menina contou
que
> foi ao local naquele dia porque precisava de 140 reais, mas quando foi
> abordada já havia conseguido juntar 500 reais, procedentes de 16 programas
> feitos desde o início daquela tarde. Quando percebeu a aproximação dos
> policiais, ainda teve tempo de entregar o dinheiro a um travesti que é
> namorado de seu irmão.
>
> Como se fosse uma adulta experiente no mercado do sexo, C.L. disse que já
> tem clientes certos, mencionando policiais, de soldados a delegados, que
lhe
> apresentam mais homens, até da polícia federal. C.L. ri dos riscos que
corre
> com a prostituição e ao revelar atividades de clientes. "Não estou nem aí,
> eu quero é ganhar dinheiro. Por dinheiro faço sexo de qualquer jeito. Se
eu
> tiver uma filha, também vai fazer programas, não tenho medo de pegar
doenças
> ou morrer", diz. Para não esquecer: C.L. tem apenas 13 anos!
>
> Grupo de quase 20 meninos cria ponto no Setor Oeste
>
> A prostituição infantil não é uma exclusividade das meninas. Os garotos
> também são assediados, principalmente por homens de classe média e até
mesmo
> por freqüentadores e funcionários de estabelecimentos comerciais do
Centro,
> do Setor Oeste e de Campinas. "A maior dificuldade é que os meninos nunca
> admitem, a não ser em casos de violência sexual flagrante", explica a
> coordenadora do SOS Criança, Juciene Carlos de Oliveira.
>
> "Eles se sentem humilhados em relatar esses casos", observa. Mesmo com a
> relutância dos menores em admitir que realizam programas, os educadores
> sociais, todos experientes, sabem identificar quando eles estão se
> prostituindo e acabam ouvindo conversas entre eles.
>
> Educadores da Casa 24 Horas, outra unidade da Fumdec, contam que há um
grupo
> de quase 20 adolescentes fazendo programas nas imediações do Lago das
Rosas
> e da Praça Tamandaré, no Setor Oeste. "Os meninos normalmente são buscados
> nesses pontos por homens de boa aparência, em carros novos. Levados para o
> local do encontro, os clientes mandam eles tomarem banho e tirar as roupas
> sujas para consumar a relação", observa uma educadora do SOS Criança.
> "Normalmente eles ganham 50 centavos ou 1 real. Quando chega a 2 reais, o
> programa foi muito bem pago. Quando chegam a nos contar essas coisas, eles
> dizem que estavam com fome", prossegue a educadora.
>
> Um dos casos mais dramáticos envolvendo a exploração de meninos aconteceu
no
> final de 1998 com o menor C., na época com apenas 11 anos. Ele foi
abordado
> por um homem na Avenida Goiás, que ofereceu 10 reais pelo programa. O
> "cliente" violentou sexualmente o menino e fugiu sem pagar. O próprio C.
> procurou o SOS Criança, onde chegou com sangramento anal intenso. Exame de
> corpo de delito do Instituto Médico Legal (IML) confirmou a violência
> sexual. Para O POPULAR, inicialmente C. negou o abuso sofrido, dizendo que
a
> vítima seria um suposto irmão gêmeo, mas depois admitiu a agressão.
>
> Garota de 14 anos recorre à prostituição para manter filho
>
> S.S. tem 14 anos, é mãe de um bebê de 1 ano e está no segundo mês de
> gestação do segundo filho. A primeira gravidez resultou de um estupro que
> ela sofreu quando morava na Bahia, praticado por um homem de 42 anos. A
> menina veio para Goiânia, trabalhou como babá e logo começou a se
> prostituir. S. não sabe o paradeiro dos parentes. O padrasto sumiu com a
mãe
> e ela ficou sozinha. Todos os dias freqüenta as imediações do Dergo. Sai
com
> casais, homens e mulheres. "Não sei o paradeiro de meus parentes nem quero
> saber", diz. S., que é uma das poucas menores que se prostituem e não usam
> drogas, conta que paga 20 reais para uma menina ficar com seu filho
enquanto
> está fora. Com o dinheiro que ganha, faz as despesas da casa.
>
> Juciene Carlos, coordenadora do SOS Criança, revela que muitas
adolescentes
> chegam na unidade levadas por clientes em carros novos, vários deles
> importados. "O SOS é para elas um porto seguro", define a coordenadora.
> Outras chegam com cartões dos clientes. Freqüentemente, depois de receber
> alguma ligação dos educadores, os exploradores mudam o número do telefone.
> Os exploradores, aliás, não são apenas os clientes, mas também os donos
dos
> estabelecimentos que as garotas freqüentam com seus parceiros. V., 16
anos,
> conta que recebe 15 reais por programa, mas fica apenas com 10. Os 5 reais
> restantes vão para o dono do quarto. A., 17, relata que 75% do valor dos
> programas que faz - ela cobra 50 reais por hora - ficam com o proprietário
> da casa.
>
> Lei
>
> Na época das investigações do Ministério Público e da formação de uma
> Comissão Especial de Inquérito, pela Câmara Municipal de Goiânia, foi
> aprovada uma lei de autoria da vereadora Olívia Vieira, que prevê a
cassação
> do alvará de funcionamento dos estabelecimentos comerciais que abrigam
> menores nessa situação. Entretanto, muitos dos pontos de prostituição
> levantados na época por uma equipe do serviço reservado da Polícia
Militar,
> que trabalhava para o Ministério Público, continuam funcionando e sendo
> freqüentados pelas menores em plena luz do dia. As instituições de
proteção
> a crianças e adolescentes estão atuando, abordando os menores em locais
> suspeitos de prostituição e levando-os para as unidades de assistência,
mas
> eles voltam aos pontos.
>
> Os educadores estão especialmente preocupados com o aumento no número de
> casos durante a exposição agropecuária, a exemplo de anos anteriores. Mas
as
> entidades de atendimento, entre elas o SOS Criança, não têm dados sobre o
> número de crianças e adolescentes se prostituindo. Qualquer levantamento
com
> base nos arquivos revelaria um número bem menor do que o real. "A grande
> maioria não admite a prostituição", diz Juciene. Todos os casos são
> enviados, por meio de relatório, ao Centro de Apoio à Infância e à
> Adolescência do MP e as crianças, quando os educadores conseguem
> convencê-las, recebem assistência psicológica.
> _________________________________
> Alessandro Vigilante
> alex@ongba.org.br
>