Analisi di Tarso Genro sulle sulla sconfitta del PT a San Paolo e Porto Alegre



>
> > > ENTREVISTA - JORNAL VALOR ECONÔMICO   03 de nov,2004
> > >
> > > Para Tarso Genro, deslocamento da classe média contra PT causou
derrota
> > > eleitoral
> > > por Sérgio Bueno De Porto Alegre
> > >
> > > Tarso: "O presidente Lula vai mexer no ministério. A equipe tem que
> > > corresponder às relações políticas reais nos Estados"
> > >
> > > A derrota nas eleições em Porto Alegre e São Paulo marca o fim do
> > > "segundo ciclo" de existência do PT, caracterizado por uma crise de
> > > "ambigüidade" em escala nacional entre a utopia e o pragmatismo. O
> > > terceiro ciclo, que começa a ser construído agora, depende da
> > > reorganização do sistema de alianças, do sucesso do novo modelo de
> > > desenvolvimento econômico que o partido tenta imprimir no país e deve
> > > resultar, num horizonte mais imediato, na reeleição do presidente Lula
> > > Inácio Lula da Silva em 2006. A avaliação foi feita pelo ministro da
> > > Educação, Tarso Genro, em entrevista ao Valor.
> > >
> > > Segundo ele, uma razão comum para as derrotas em São Paulo e Porto
> > > Alegre - um "baque fundo no prestígio político nacional e
internacional"
> > > - foi o "deslocamento" das classes médias contra o PT. A seguir, a
> > > entrevista:
> > >
> > > Valor: Por que o PT perdeu em Porto Alegre e São Paulo?
> > >
> > > Tarso Genro: As eleições não podem ser compreendidas fora do contexto
> > > nacional e do que chamo de encerramento do segundo ciclo da existência
> > > do PT. O primeiro vai da fundação até 1988, quando ganhamos Porto
Alegre
> > > e São Paulo, e o segundo vai de 1988 a 2004. O encerramento deste
ciclo
> > > se caracteriza por uma crise de ambigüidade do partido em escala
> > > nacional.
> > >
> > > Valor: Que ambigüidade é esta?
> > >
> > > Genro: De um lado, o PT ainda com certos traços utópicos relacionados
> > > com sua história e, de outro, o PT que descamba para um acordo
> > > completamente fora dos parâmetros históricos, como em São Paulo, com
(o
> > > apoio) de (Paulo) Maluf. Essas duas características do partido estão
> > > derrotadas. Isto significa que se esgota tanto o pragmatismo que nos
> > > leva para uma postura de partido tradicional quanto aquela visão do PT
> > > como partido de movimento, de generosidade e de luta e que chega ao
> > > governo, cumpre tarefas de alta relevância, governa bem, mas é
> > > derrotado.
> > >
> > > Valor: As derrotas em Porto Alegre e São Paulo representaram um
> > > julgamento e um enfraquecimento do governo Lula?
> > >
> > > Genro: O governo Lula não sai enfraquecido, mas o PT pode se
enfraquecer
> > > se não analisar com profundidade a causa das derrotas nessas duas
> > > regiões emblemáticas e não iniciar a construção de novo projeto
> > > partidário para este terceiro ciclo. O governo Lula saiu bem das
> > > eleições e isto é muito importante para o partido e o país.
> > > Quantitativamente o PT mostrou mais vigor e capilaridade nacional, mas
é
> > > absolutamente incontornável reconhecer que a perda de São Paulo e
Porto
> > > Alegre constitui um baque fundo no nosso prestígio político nacional e
> > > internacional.
> > >
> > > Valor: O que houve de semelhante nas derrotas nessas cidades?
> > >
> > > Genro: Por causas diferentes tivemos o mesmo deslocamento de setores
> > > médios contra nós. A Marta Suplicy foi uma excelente prefeita, o João
> > > Verle também. Ambos estavam muito bem considerados pelas pesquisas e
nós
> > > não conseguimos transferir esse apoio aos nossos candidatos. Há um
> > > sentimento de renovação e de mudança, que nós mesmos somos
> > > impulsionadores, e que se voltou contra nós. O encantamento, o charme
e
> > > a coerência da história do PT alcançaram seu ápice com a eleição do
> > > presidente Lula e destes governos (municipais). Isto se esgotou. Sem
um
> > > novo impulso, esse ápice pode entrar num processo de deterioração.
Acho
> > > que o discurso do encantamento da classe média que se produzia em
função
> > > de uma visão sócio-transformadora não tem mais nenhum apelo num mundo
> > > completamente irracional, consumista e comprimido pelo processo
> > > econômico que herdamos e ainda é muito cedo para dizer que foi
> > > revertido.
> > >
> > > Valor: Funcionários públicos contrariados pela reforma da Previdência
> > > estão neste contingente?
> > >
> > > Genro: É possível que tenha algum contingente influenciado por esse
> > > processo, mas não creio que tenha sido definidor. Se isso fosse
> > > verdadeiro, se o governo Lula fosse fator de problema, nós não
teríamos
> > > ganho no primeiro turno em Recife e Belo Horizonte.
> > >
> > > Valor: Mas o próprio candidato derrotado em Porto Alegre, Raul Pont,
> > > admite que o descontentamento com o governo Lula pode ter influenciado
o
> > > resultado. O que houve de diferente entre Porto Alegre e Belo
Horizonte,
> > > por exemplo?
> > >
> > > Genro: Foram formas diferentes de disputar os conceitos sobre o
governo
> > > Lula. Na campanha de Belo Horizonte a questão do governo Lula esteve
> > > presente de maneira intensa. E toda a relação política nacional, de
> > > projeto, que o Fernando Pimentel apresentou durante a campanha esteve
> > > totalmente vinculada ao governo Lula. Aqui no Rio Grande do Sul, a
> > > discussão sobre o governo Lula não foi provocada nem por nós nem pelos
> > > nossos adversários. Fica difícil dizer, então, como querem alguns
> > > companheiros, que o governo Lula prejudicou a eleição do Raul. Na
minha
> > > opinião, não.
> > >
> > > Valor: Qual o caminho a seguir?
> > >
> > > Genro: Agora se trata de construir um novo ciclo, já colocando, como
> > > elementos fundamentais, a questão da reeleição do presidente Lula, a
> > > transição para um outro modelo de desenvolvimento e a pretensão de
> > > reorganizar o sistema de alianças nacional, que hoje não tem nenhuma
> > > coerência em termos federativos.
> > >
> > > Valor: Como deve ser esta reorganização?
> > >
> > > Genro: Não é aceitável que setores do PMDB e nomes do PSDB como Lúcio
> > > Alcântara e Luiz Paulo Vellozo Lucas estejam fora do sistema de
alianças
> > > e uma constatação como esta implica que precisamos de uma reforma
> > > política que possa oferecer alianças de caráter nacional e de acordo
com
> > > as visões programáticas dos partidos. É preciso uma visão mais
> > > federativa do sistema de alianças, que permita uma mínima coerência na
> > > relação com o Congresso e com as lideranças regionais. O que deve ser
> > > privilegiado, num contexto mais imediato, é a reeleição do Lula.
> > >
> > > Valor: Que perfil o PT começa a desenhar neste terceiro ciclo?
> > >
> > > Genro: Estamos iniciando a etapa de construção, que não é curta. Não
> > > será resolvida na próxima eleição e passa no mínimo por mais duas ou
> > > três eleições. E, mais do que isto, passa pelos resultados do projeto
> > > econômico que o governo Lula está desenvolvendo, do sucesso da
transição
> > > para um outro modelo de desenvolvimento, que na minha opinião ainda
não
> > > ocorreu e que está sintetizado pelo que o presidente disse
recentemente
> > > em Curitiba: 2005 será o ano da infra-estrutura e da educação.
Concordo
> > > plenamente com esta visão do presidente de privilegiar de maneira
muito
> > > clara duas ou três questões estruturadoras do novo modelo sob pena de
> > > termos um bom governo, honesto, mas um governo médio, não um governo
que
> > > dê efetivamente a esperança no futuro.
> > >
> > > Valor: Isto não significa um afrouxamento orçamentário, uma mudança de
> > > rumo provocada pelo resultado das eleições?
> > >
> > > Genro: O presidente não diria uma frase como disse em Curitiba de
> > > maneira gratuita. Ele estava já sinalizando quais serão os dois
> > > elementos da transição do modelo e acho que processo eleitoral
fortalece
> > > esta visão do presidente. Mas isto não implica em irresponsabilidade
> > > orçamentária. Exige mais responsabilidade, mas também mais decisão de
> > > fazer gastos bem feitos e isto não significa se isolar da comunidade
> > > financeira internacional, não implica num afastamento da globalização.
> > > Pelo contrário, significa entrar na globalização de maneira soberana,
> > > ter um suporte político externo de enorme amplitude, relações
comerciais
> > > que dêem sustentação para alcançarmos taxas de crescimento compatíveis
> > > com um país como o nosso, que devem ser no mínimo de 6% a 7% ao ano.
> > >
> > > Valor: Só que isto não é consenso dentro do partido.
> > >
> > > Genro: Qual é ambigüidade que o PT não resolveu? Como partido de
governo
> > > ele não enfrentou corretamente uma visão corporativa de sua base. E
> > > enquanto partido de luta não conseguiu vincular a capacidade de
produzir
> > > demandas sociais e de pressões sobre o governo combinando-as com
> > > decisões do governo. Isto determina uma contradição entre o partido
que
> > > está no governo e o que está fora.
> > >
> > > Valor: Esta situação não está afastando o PT de suas bases?
> > >
> > > Genro: A questão da reorganização da nossa base social passa muito
mais
> > > pela inclusão em relações formais de trabalho do que propriamente de
> > > políticas sociais que são necessárias, mas não reorganizam a base da
> > > sociedade, apenas combatem a miséria no seu ponto mais extremo. Então
a
> > > questão da retomada do crescimento, da inclusão das pessoas na
sociedade
> > > de classes passa a ser chave para um partido moderno de esquerda. Isto
> > > significa altas taxas de crescimento, distribuição de renda e
políticas
> > > públicas fortes. Não é mais uma luta para agudizar o conflito de
> > > classes, mas pela recoesão da sociedade.
> > >
> > > Valor: O que o PT gaúcho deve fazer para recuperar a hegemonia
política
> > > no Estado em 2006?
> > >
> > > Genro: Deve fazer excelentes governos nas cidades que estamos
> > > governando, disputar politicamente junto à sociedade o significado do
> > > governo Lula para o país, criar canais de diálogo ampliados com as
> > > classes médias e começar a costurar um projeto de desenvolvimento para
o
> > > Rio Grande do Sul, projeto que não haverá se não ocorrer uma
> > > renegociação, ainda que moderada, sem criar instabilidade, da dívida
> > > pública dos Estados. Já disse isto quando concorri ao governo do
Estado
> > > (em 2002) e esta questão ainda permanece em aberto.
> > >
> > > Valor: O Sr. está recolocando a proposta, agora por dentro do governo
> > > federal?
> > >
> > > Genro: Não vou abrir a discussão porque esta não é uma questão minha
> > > como ministro da Educação, mas mantenho a mesma opinião que manifestei
> > > durante a campanha eleitoral de 2002.
> > >
> > > Valor: O PT pode buscar uma aliança com o PPS de José Fogaça para
formar
> > > o desejado bloco de centro-esquerda em 2006?
> > >
> > > Genro: É muito cedo para dizer qual será ao sistema de alianças. O
ideal
> > > seria que o sistema de alianças regional reproduzisse com um mínimo de
> > > coerência o sistema nacional e que tivesse o espectro de
> > > centro-esquerda, onde PT seria o partido que representaria a esquerda.
> > > Mas é cedo para falar em partidos.
> > >
> > > Valor: Como será a reforma ministerial pós-eleições? O Rio Grande do
> > > Sul pode perder uma das quatro pastas?
> > >
> > > Genro: O presidente Lula vai mexer no ministério. É natural, porque o
> > > ministério tem que corresponder às relações políticas reais nos
Estados,
> > > que, por conseguinte, refletem diretamente no Congresso, o centro
> > > principal da governabilidade do país. Mas o presidente nunca mencionou
> > > qualquer nome nem qualquer ministério, embora seja visível
politicamente
> > > que ele vá modificar alguma coisa. Em relação ao Rio Grande do Sul,
> > > todos os ministros, como os de todos os demais Estados, ocupam cargos
de
> > > confiança do presidente e todos, indistintamente, devem estar
preparados
> > > para tomar outro rumo numa reforma ministerial.
> > >
> > >
> > >
> > >