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Brasil: Não basta empatar, vencer é preciso
- Subject: Brasil: Não basta empatar, vencer é preciso
- From: "nello margiotta" <nellomargiotta55 at virgilio.it>
- Date: Fri, 31 Oct 2003 08:23:13 +0100
31 de outubro de 2003 Luciano Siqueira (*) La Insignia. Brasil, 30 de outubro. Passados alguns dias desde a fala do ministro Palocci em rede de rádio e TV, em que proclamou a vitória sobre a inflação e concitou o empresariado a retomar seus investimentos, permanece a sensação de que algo está faltando. O ministro da Fazenda assinala, com razão, o êxito do governo na estabilização da moeda e na contenção inflacionária. Tudo bem. Afinal, não viramos uma Argentina, como prenunciavam nossos adversários. Mas só isso não basta. Urge retomar o crescimento econômico, sem o que não se poderá ampliar a oferta de empregos e atenuar as precárias condições de existência da maioria dos brasileiros. Mas aí as coisas continuam nebulosas. Corremos o risco de iniciar 2004 ainda sob rígido controle orçamentário, em detrimento dos investimentos alavancadores da economia. Onde está o nó? Exatamente na concepção dominante, no ministério da Fazenda e no Banco Central, de que o ajuste fiscal rigoroso deve prosseguir como remédio preferencial para atenuar os malefícios das dívidas externa e interna sobre o desempenho da economia. Assim, o País não cresce, mas também não se desequilibra. Parecido com a seleção brasileira de 1994, da retranca do técnico Parreira, quando tudo levava a crer que importante era empatar, não necessariamente vencer. Tanto que vencemos a Copa do Mundo contra a Itália com um angustiante empate, decidido nos pênaltis. Sem muita vibração. No futebol, até que se podia aceitar essa orientação defensiva, imobilista e estéril. Na economia brasileira de hoje, não. Porque a estabilidade sem crescimento compromete a soberania do País e pode frustrar as esperanças de milhões de brasileiros cujas carências estão a depender justamente da retomada do crescimento. Por isso, muitos defendem, como o PCdoB, a reestruturação do pagamento da dívida pública - comportando a renegociação, a moratória e o controle do fluxo de capitais. Solução ousada, sim. Mas sustentável por um governo respaldado na vontade da maioria da nação e dono de crescente credibilidade internacional. Por aí o Estado recuperaria sua condição de indutor do desenvolvimento, realizando os investimentos que lhe cabem - e não apenas apelando à iniciativa privada, como faz Palocci. A proposta orçamentária do governo se aproximaria dos objetivos consignados no Plano Plurianual. E se poderiam fazer despesas públicas direcionadas para o aumento real do salário mínimo e o incremento de ações que possibilitem a oferta imediata de novos empregos, combinadamente com investimentos estratégicos em infraestrutura capazes de fomentar as atividades produtivas. Trata-se de uma divergência de fundo no interior do governo, que certamente não se resolve sem luta. (*) Vice-Prefeito da Cidade do Recife (Pernambuco, Brasil)
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