Brasil: Esperanças e expectativas



Correio da Cidadania

Editorial

Esperança e expectativa são palavras que exprimem o sentimento geral no ano
que passou.

As esperanças são grandes. Espera-se o início de um período histórico no
qual possam ser removidos os dois grandes entraves ao nosso desenvolvimento:
a dependência externa e a desigualdade social. Assim como 1930 é lembrado
como o ano em que o Brasil iniciou sua caminhada para a industrialização e a
urbanização, 2002 - espera-se - será recordado, daqui a setenta anos, como
aquele em que teve início a marcha para a independência e a democratização.

Esperança é certeza que decorre da fé. De que fé se nutre a esperança do
povo brasileiro neste final de 2002? A fé em si próprio. Pela primeira vez,
em quinhentos anos de história, o povo consegue apoderar-se do ramo mais
importante do poder: o comando do Executivo Federal. O impacto desse fato no
imaginário popular é a grande energia propulsora das transformações
econômicas, sociais, políticas e, sobretudo, culturais, que estão por vir. O
fundamento da esperança é a possibilidade, finalmente aberta, de um
verdadeiro protagonismo do povo no processo de construção da Nação.

As esperanças são grandes, mas as expectativas, pequenas.

Expectativa é conclusão de raciocínio lógico, cartesiano. Os dados da
economia e da política não se compadecem com a possibilidade de grandes
avanços, quer no campo da autonomia econômica, quer no da redução das
desigualdades sociais. Tanto num como noutro desses planos, as margens de
manobra de Lula são bastante estreitas. Qualquer passo em falso pode
precipitar uma situação incontrolável. E pior, a falta de passos conduz
também a situações incontroláveis.

Como alimentar esperanças no contexto de expectativas tão limitadas? Talvez
a história possa ajudar na resposta. Os brasileiros sabem, já de algum
tempo, que o Brasil é uma economia de enorme potencial, tanto pela dotação
extraordinária de recursos naturais, quanto pelo elevado grau de
desenvolvimento das suas forças produtivas. É generalizado o sentimento de
que algo nos entrava, de que certas aberrações sociais não são compatíveis
com o grau de civilização que atingimos, de que não temos por que aceitar
certas imposições que nações muito mais débeis repelem. Esse sentimento
nacional veio à tona quando, em uma conjuntura muito particular da história,
as elites brasileiras desertaram da sua tarefa, entregaram o país aos
negocistas e ao crime organizado, perdendo toda legitimidade para liderar a
Nação.

Cinqüenta e dois milhões de brasileiros parecem ter percebido que, diante
dessa vergonhosa renúncia e da grave encruzilhada histórica em que o país se
encontra, ou assumem um papel protagonístico na solução dos graves problemas
que os afligem

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Nello

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